domingo, 16 de dezembro de 2007

Vai lá vai

É desta que isto descamba num marasmo irresolúvel!

E enquanto usavam termos desta ordem de falsa tentativa de aprofundamento, iam falando do Cristo Cósmico. Este sim foi novidade para mim.

Quando se ouvem coisas destas fica-se um bocado à toa. O Cristo Cósmico não é, como alguns podem pensar, uma visão de Cristo super herói, tipo Marvel, com capa e tudo… É uma visão da cristandade, baseada na ideia de que fazemos parte do Universo ( facto ) e que devemos amar e sentir proximidade com tudo o que existe, mesmo tudo.

Tudo isto baseado num “profundo aprofundar da fé” e numa “nova e imperiosa mudança da interpretação da cristandade” sem que “se perca a raiz judaico-cristã monoteísta e universal”.

Agora pode-se respirar um pouco…

Temos que admitir que esta conversa é um bocado violenta, principalmente, às 7 e tal da manhã, num carro, a caminho do trabalho…

Queria pedir aos senhores e senhoras que mandam nas rádios, o favor de se deixarem de tretas e começarem a falar de coisas importantes. Não é que a religião e a fé não o sejam, mas… É que é cedo e a malta fica desorientada…

Vamos lá ver, se quiserem, falem de coisas como o Sócrates e outras assim do género. A não ser que estejam à espera que o Cristo Cósmico venha até cá para nos ajudar...

Acabei de receber uma notificação do meu chefe de serviço a dizer que vou ser severamente punido por ter chamado “coisa” ao Sócrates.

Desculpem lá mas o computador está a “brecar”…

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Doce

Desintegro-me num voo longo, como fazem alguns pássaros. O motivo não é muito diferente: procurar calor, conforto e sobreviver.

Ora, tal como dizia, desintegro-me. É como se fosse vento, um qualquer, quente e pleno. Como se voltasse ao tão desejado útero. A Mãe é tudo o que não sou e nada mais existe.

Enfim, renasce-se, recomeça-se para mais tarde se findar, de novo. No entretanto é-se eterno, por segundos é certo, mas eterno…

Depois vem a matemática, que não é muito mais que uma tentativa fútil de esclarecer tudo o que não interessa, para justificar tudo isto. Ou não… Sei lá eu… Ou tu…

Chega agora de viagens difíceis. Será que devo dizer difíceis ou complexas? É como abrir certas latas de atum: difícil, não complexo.

Bem, de que falava eu? Ah!... Era a música… Agora é já o silêncio, o doce silêncio do fim do concerto.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Lado de fora

Há coisas que acontecem neste calhau que me deixam perturbado.

O calhau que estou a falar é a Terra (bocado de matéria a meio caminho entre nada e coisa nenhuma).


As coisas são… bem as coisas são muitas. Muitas é pouco: Ele é gajos a morrer por coisa nenhuma, miúdas mutiladas por crenças, miúdos desmembrados por "dá cá aquela palha", putos subnutridos por meia dúzia de pedras, velhos sós porque não há pachorra…

No meio disto tudo, ainda que completamente do lado de fora, estão as nossas vidas, os nossos problemas, os nossos ais… Menores. Muito menores. Só não o são para nós. Porquê?

Porque o egoísmo faz parte daquilo que somos, todos? Porque a vida dos outros, ou a falta dela, não nos diz assim tanto? Porque…

Não será porque a nossa vida é que não nos diz assim tanto?

Ou será porque a nossa vida nos diz demasiado?

sábado, 6 de outubro de 2007

Champô

Bem, isto tem andado muito sério ( não é que não seja essa a ideia mas… ), até já me têm chamado deprimido. Vejam só! Eu deprimido!...

A título de excepção vou falar de champôs. Exactamente, de champôs!

Ora bem, o que é que se pode dizer dos champôs?... Normalmente cheiram bem, são caros e existem para todos os tipos de cabelo: normais, secos, secos nas pontas, curtos, compridos, com madeixas, pintados, frisados, secos na raiz e oleosos nas pontas, com lêndeas, com caspa, com caspa nas pontas ( que me perdoem os cidadãos que tenham outro tipo de cabelo mas isto não dá para tudo).

É claro que ninguém calculava que existiam todos estes tipos de cabelo, até que a industria do champô se lembrou de criar champôs para isto tudo.

No outro dia, ao ver um anúncio destes “néctares de limpeza capilar com propriedades nutritivas extraordinariamente especificas”, vulgo champôs, deparei-me com uma realidade que desconhecia: a ordenha das amêndoas. Sim, perceberam bem. Existem champôs com “leite de amêndoas”. Já estou a imaginar as amêndoas a serem ordenhadas por senhoras do campo, com o respectivo lenço na cabeça, enquanto os seus maridos ( homens rijos ) vão dando erva às amêndoas mais novas para que estas cresçam fortes e produtivas…

Tudo isto me parece um bocado estranho… Chego mesmo a acreditar que não existe leite de amêndoas… Mas, na dúvida, comprei o champô. O que não é totalmente estranho… Há quem acredite que o governo quer o bem das pessoas, que os padres vão para o céu, que “bomba atómica” é um produto de limpeza doméstica, que “buraco do ozono” é a toca de um animal selvagem, que “morrer à fome” é o nome de um filme americano… Porque raio não hei-de eu acreditar nas propriedades nutritivas do leite das amêndoas?!

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Tango

Dançar só porque sim!...
Deixar fluir o corpo com ritmo,
Impedindo as escaras da pausa.
No mesmo instante,
O movimento e a falta dele,
Dentro e fora de nós.

À volta do que somos nesses instantes,
SILÊNCIO…

O mundo colabora na conspiração.
De manhã, adormeço o Tango…
Saboreando mais uma derrota.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Opto

Páro e opto
Esta noite quero insónia
Cerro os olhos e desço...
Observo, inquieto,
Pinturas de traço fino
Preto e branco,
Preto no branco!
Desci em mim
Acordo de tudo.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Enquanto

Enquanto o céu desabar, constante, sobre as nossas cabeças, tudo vai bem.
Pior, diz-se, é depois, quando já não houver nem céu nem Deuses para se adorar.

Essência

A essência de tudo o que mexe é exactamente essa. Mexer-se.

Não me estou a referir ao acto de mudar de posição, tendo em conta um referencial fixo, alternando entre um ponto e um outro, qualquer.

Estou a falar do movimento parado e, logo, onde não se podem aplicar referenciais físicos comuns às outras coisas que mexem.

Em rigor o referencial existe, apenas é interno ou, pelo menos, não é desta Dimensão.

Importante, agora, é perceber qual é essa Dimensão.
Onde começa e acaba.

Não será sempre essa a questão? De tudo? Sempre?
Obviamente que não!

Falava eu da essência. A essência, a julgar por estas frases, é a loucura…
Controlada ou não, sincera ou não. Enfim, pura ou impossível.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Ritmo

Tudo se começa a manifestar
O dia cresce em si e para fora
O ritmo é alucinante

Tudo se começa a manifestar
Sai de mim (em mim mas para fora)
Não faz sentido este ritmo

Tudo se começa a manifestar
Parou a pureza de mim e de fora
O coração bate e bate e bate e bate e bate…

domingo, 17 de junho de 2007

Pausa

Pauso as voltas que a Terra dá,
Involuntária
Olho a imagem parada que os olhos fixam,
Atentos
Desato o nó aos sapatos,
Dolorosos
Piso o chão com alívio impossível

O momento pausado prolonga-se,
Ainda fixo em verdade
O tempo deixou de existir aqui,
Tudo é espaço e sensação

É o mundo de tudo o que não sou
Parado em calma sincera
Impossível só o não ser!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Púrpura

Entram pela janela da frente os primeiros raios púrpura
Nem vermelho alaranjado ainda nem já ciano claro...
É a adolescência do resto da manhã isto que me afina o pensamento
Viro o olhar para a porta mais interior da casa onde moro,

Tudo mais claro agora.
Esta luz desmascara alguns cantos da divisão anexa,
Onde guardo os arquivos.
Páginas em código são reveladas
Novidades minhas que guardo só.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

O Processo

Tenho ouvido dizer que com o tempo vamos mudando. Ficamos mais fortes, resistentes e até mais sábios.

Discordo! O que me parece que acontece é que vamos criando carapaças e reforçando as que já existiam, enfim… Vamos acrescentando camadas e camadas de cimento à alma de forma a que fique invisível.

O problema é que não se torna só invisível… Fica indizível, indivisível, impalpável… No fim será mesmo improvável.

Não será todo este processo, o envelhecimento, um processo de estupidificação?

Serão estas carapaças e cimentos indispensáveis à existência ou podemos, de vez em quando, despi-las e por a alma a respirar ar puro?!

terça-feira, 15 de maio de 2007

Tiro os óculos

Tiro os óculos da cara, só para embaciar o mundo
Assim, vejo melhor o que está perto.
Melhor não, mais nítido, sem lentes.
A mesa em que escrevo apoia todo o meu peso
Sem queixumes nem gritos nem ânsias
Apoia o meu peso, só.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Gota a gota

A chuva miúda cai, breve, sobre os telhados. Os telhados são meus… de vidro. Não se pode dizer que se partem mas estão gastos, do gota a gota que sofrem.

Enquanto isto acontece, na cidade, no campo, na praia, tanto faz, tudo se transforma e fica mais pesado. É incongruente este ficar gasto… tudo o que se gasta fica mais leve, mais pesado nunca!

O que verdadeiramente pesa é o peso de existir e de se saber que se existe. Não é complicado é só pesado. Tudo passa a ser nosso e passamos a ser tudo.

Nas noites passadas entre mim e o outro, que às vezes pareço, lembro tudo o que fui e tudo o que quis ser, para, logo depois, deixar essas ideias ao abandono que sempre as caracterizou, apesar de profundas. Bem… o que será mais profundo que o abandono que oferecemos a nós próprios?

Depois de tudo isto é provável que venha a leveza. Não a da plenitude, antes a da falta dos telhados, que de gastos se partam em estilhaços múltiplos e se distribuam pelas diferentes salas da pesada existência.

terça-feira, 13 de março de 2007

Quase acção

Fecha-se a janela da percepção e a porta disso mesmo mantém-se aberta. Esta é uma das muitas maneiras de nos isolarmos de tudo o que é resto. O caminho de uma solidão voluntária para se chegar a algum lado que não seja só mais um. E a descoberta começa, já repetida em si mesma, mantendo, ainda assim, a novidade de ser sentida de novo.

O fechar da janela não costuma ser mais que deixar de ver os pássaros, carros, pessoas, árvores, casas, céu, rio. Enfim… tudo o que se pode ver de uma janela como as das casas das pessoas que têm casa com janela. ( A confusão só serve para confundir. )

O abrir a porta é deixar entrar tudo o que o deseje fazê-lo, sem a nossa intervenção, sem o manifestar desejo, como se faz quando vamos olhar pela janela, nem que seja para matar as horas.

Pode entrar tudo. Pode sair tudo. Perde-se a responsabilidade do acto, apenas porque não se actua: vê-se e interpreta-se, só!

Chama-se inércia activa, mata o desejo.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Conquista

Remexendo na arca daquilo que sou podem-se encontrar motivos de sobra para me justificar. Um simples exercício de introspecção revela-me o mundo, todo! Limita-me apenas a certeza de tudo o que consigo ver: eu a ser eu, simplesmente.

De volta à realidade das coisas objectivas todas as certezas se dissolvem no lodo falso da pureza quotidiana.

Uma brisa de alegria apodera-se de mim. Sou eu, consciente que sou de mim, a gostar daquilo de que tenho consciência. É da própria consciência que vem a brisa.

A certeza da limitação consciente de ser consciente em mim conforta… Tudo!

A Liberdade que se consegue extrair da limitação é a maior que se pode conseguir: quando se conquista conquistou-se o infinito.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Calma em mim

A calma que sinto em mim, melhor, a calma que por vezes sinto em mim, costuma nascer nos outros. Isto não quer dizer que não seja efectivamente minha, apenas quer dizer que costuma nascer nos outros. E quem são esses outros? Aqueles que me fazem sentir que existo, sem rodeios nem grandes artifícios.

Já tenho sentido calma que começa em mim... Essa é mais difícil de traduzir. É uma calma inquieta: calma porque me acalma e inquieta porque me inquieta.

Também já tenho sentido, e não raras vezes, um misto disto tudo. Esses têm sido os momentos felizes. Momentos, horas, dias… Mais que isso e começo a sentir que me estou a vestir de uma Felicidade que não é minha, não porque não exista mas porque apenas foi inventada cá dentro: agasalhos pesados demais para um Inverno que não existe em mim.

Quando sinto esse peso da roupa, dispo-me e recomeço.

Depois aguardo… Sei que mais momentos de Felicidade virão ter comigo, principalmente os que nascem nos outros, aqueles que vejo tão de perto que chego a sentir que somos a mesma coisa, parte comum de um organismo mais complexo e extenso, ainda que legitimamente reduzido e privado.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O dialecto primitivo

Lá vou eu de novo… Sigo por mim como se descesse uma escada em espiral para o abismo que me define.

Quando se chega ao abismo do que somos, nada do que se vê é nítido, nem tão pouco parece real. Afinal sou só eu a olhar para mim, por dentro e no fundo do que sou. E é isto que ofusca a visão, embora a ofusque na mesma medida em que a acrescenta.

Muda-se a linguagem, não por ser outro sitio mas por se terem mudado os símbolos. Ficamos novamente crianças e tudo, mesmo tudo, é novo e fascinante. Até o que nos mete medo. ( Sim, eu sinto medo. ) Depois de se aprender essa linguagem do abismo que visitamos e é nosso, verdadeiramente nosso, começa a viagem pela semântica do que somos.

É neste ponto que me sinto e sou.

Parado em mim e activo na procura do meu significado. Porquê? Já tentei, muitas vezes, responder-me, e a página da resposta ficou sempre em branco.

Cansaço de mim

Tenho sido constante em mim. Tem-me custado, aliás, tem-me sido caro pensar em mim… e nos outros… estou naquela fase em que o cansaço invade e não permite que nada flua livremente de mim para fora.

Esta sensação costuma significar que me estou a aproximar de mim. E é isso que cansa. Estar preso a mim. Tudo se transforma em nada e o cansaço vem.

No final de contas é estado de espírito, ou de outra coisa qualquer, o que não me deixa ser outro que não seja eu. O que mais cansa é o facto de me sentir cansado de mim. Vale-me a certeza de que tudo isto há-de passar, como tudo o resto… e tudo o resto sou eu.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

O eu corrosivo

A inexperiência sobre a vida e as coisas que a constituem leva-me a guardar, em arquivo interno a que só eu tenho acesso, tudo a que a ela diz respeito.

Depois de recolhidos os dados ( é se calhar aqui que começa o erro ) vou, com mais ou menos calma, lê-los, estudá-los e chegar onde quer que eles me levem.

Este é um processo estúpido e lento. É o ponto de partida para a minha inacção enquanto Ser Social. Olho, sinto, cheiro. Passo dias e dias nisto sem reparar em mim ou, talvez, sem fazer nada que não seja isso mesmo.

Tudo isto nos torna corrosivos e desacreditados em relação à vida. Tudo isto passa. Depois chegamos a um sítio onde a única opção é fazer tudo ao contrário e lutar para mudar tudo. Será que o problema vem de fora, dos outros, do mundo, da cor das coisas, do cheiro das coisas? Parece-me que não. O maior erro disto tudo vem de nós, o problema é assumir isso e, depois, lidar com aquilo que se assumiu.

Todas as impressões que tiramos do mundo não são, em verdade, o mundo, nem tão pouco o resumem ou o tornam mais claro. Aquilo que tiramos do mundo é exactamente isso, a nossa visão do mundo. Parece estúpido, não é? E é. O que se passa é não conseguirmos, na maioria das vezes, diferenciar o que é do que não é. O que é exterior a nós nunca vai ser visto por nós de uma forma clara e límpida, exactamente porque é exterior a nós. Não se pode fugir a isto.

O que resta então à lucidez? O que é feito da interpretação? Qual é a forma pura?
Não faço ideia… Apenas me ocorre que o que me resta é perceber-me, para depois fazer com isso uma coisa qualquer… Provavelmente vou fazer o que faço sempre, pelo menos na maioria das vezes… continuar a olhar…