quinta-feira, 12 de abril de 2007

Gota a gota

A chuva miúda cai, breve, sobre os telhados. Os telhados são meus… de vidro. Não se pode dizer que se partem mas estão gastos, do gota a gota que sofrem.

Enquanto isto acontece, na cidade, no campo, na praia, tanto faz, tudo se transforma e fica mais pesado. É incongruente este ficar gasto… tudo o que se gasta fica mais leve, mais pesado nunca!

O que verdadeiramente pesa é o peso de existir e de se saber que se existe. Não é complicado é só pesado. Tudo passa a ser nosso e passamos a ser tudo.

Nas noites passadas entre mim e o outro, que às vezes pareço, lembro tudo o que fui e tudo o que quis ser, para, logo depois, deixar essas ideias ao abandono que sempre as caracterizou, apesar de profundas. Bem… o que será mais profundo que o abandono que oferecemos a nós próprios?

Depois de tudo isto é provável que venha a leveza. Não a da plenitude, antes a da falta dos telhados, que de gastos se partam em estilhaços múltiplos e se distribuam pelas diferentes salas da pesada existência.

1 comentário:

Anónimo disse...

A noite está fria,
as ondas do mar
enrolam n´areia
que brilha macia.

A incerteza desfruta no ar
madura
ouvem-se gritos nas dunas,
a criança vai chegar
na noite escura.

Chorar ao primeiro olhar,
clamar à luz qu´ílumin´à lua?

Bem vindo ao mundo!
dizem de pronto,
este é o paraiso dos deuses
império dos homens sem futuro.