E tudo se transformou
A explosão não fez mortos, diziam na rádio, enquanto se preparava para sair.
Só feridos graves e ligeiros, grandes feridas abertas nos corpos e nas almas de quem assistiu ao propagar das chamas.
Tomou depois o café na mesa da cozinha e comeu uma torrada com doce.
Enquanto seguia, no autocarro de sempre, observava um homem, velho, a olhar a paisagem cinzenta como se fossem flores vermelhas. Era evidente a sua vontade de sair dali, tal como era evidente a sua falta de coragem para o fazer. Todos os dias desde que mudara para aquele prédio o via: a mesma cara, no mesmo lugar, o mesmo olhar, cheio de vazio…
Chegou ao destino.
PAUSA.
De regresso a casa, para junto de quem estava à espera, não encontrou o homem velho do costume. O lugar tinha ficado vago. Na esperança de perceber o que ia na alma do homem velho, decidiu sentar-se no banco dele e olhar pela mesma janela.
A mesma paisagem, a mesma cor, sensações diferentes…
Tudo tinha mudado. O homem velho tinha-se libertado de tudo, até do lugar no autocarro.
Agora aquela prisão era sua…
No telejornal repetiu-se a história de explosão. O Benfica tinha empatado. O ministro não caiu. As guerras eram as mesmas. O homem velho tinha sido visto a voar, com asas grandes e plenas, em direcção ao sul.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Andando
Enquanto se for andando, sem compromissos nem vontade de chegar a lado nenhum, podem ver-se as coisas mais pequenas com uma nitidez impossível de outra forma.
Isto das viagens tem os seus truques. Uns mais honestos e claros outros íntimos e insondáveis, até para quem os tem… No fundo disto tudo o que importa não é o rumo.
São as pedras e pó da estrada que dão sentido à viagem.
Quando se parte por nós, vasculha os recantos e viola a intimidade, tudo o que sobra é o que se foi vendo.
No fim só vão sobrar as viagens, melhor, as memórias das viagens. As fotografias que fomos tirando hão-de amarelecer e ficar desfocadas. Fica a sensação em forma de memória e tudo o resto não faz falta.
Isto das viagens tem os seus truques. Uns mais honestos e claros outros íntimos e insondáveis, até para quem os tem… No fundo disto tudo o que importa não é o rumo.
São as pedras e pó da estrada que dão sentido à viagem.
Quando se parte por nós, vasculha os recantos e viola a intimidade, tudo o que sobra é o que se foi vendo.
No fim só vão sobrar as viagens, melhor, as memórias das viagens. As fotografias que fomos tirando hão-de amarelecer e ficar desfocadas. Fica a sensação em forma de memória e tudo o resto não faz falta.
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